Clayton Reis, Entrevista

Em entrevista a revista digital Gente Espírita, edição 69 – página 6, Clayton Reis fala sobre seu recente livro “O Encontro”, lançado pelo Instituto Memória.

O que levou o senhor escrever O ENCONTRO? Faltava algo mais para ser explicado e entendido acerca do pragmatismo da vida humana?

CLAYTON – Nunca temos respostas certas e definitivas sobre a existência humana. A doutrina de Kardec nos oferece respostas sobre intrigantes questões: de onde viemos, para onde vamos e o que somos. Essas dúvidas sempre atormentaram os seres humanos. Mas, o pragmatismo da vida humana, está a contribuir enormente para a fragmentação dos nossos valores. OS NOSSOS conflitos se acentuaram e polarizaram nosso modo de agir e pensar. Nos tornamos seres com múltiplos conflitos. Há muito percebi essa situação na magistratura e na docência. Foi quando comecei a indagar – qual a razão de tantos conflitos e ao que se deve atribuir a eles?

Por que é tão difícil para o Espírito encarnado encontrar-se consigo mesmo?

CLAYTON – Porque os apelos da matéria são mais fortes do que os do espírito. A sociedade em que vivemos, em razão do extraordinário desenvolvimento da ciência e da tecnologia nas últimas décadas, colocou no mercado de consumo produtos que nos atraem e propiciam comodidades e satisfações imensas. E, ASSIM, deparamo-nos com o conflito perante o TER e o SER. Nossa voracidade de consumo aumentou nas últimas décadas.

NO DIZER de Steven Pinker, “a culpa por esse pesadelo pode ser atribuída a uma “estrutura global de poder” (de consumo, diria) que erodiu “os alicerces espi
rituais e morais do cristinianismo”. Assim, será preciso um esforço acentuado para não nos deixar “dominar” pelos interesses materiais que nos envolvem
e nos induzem ao consumo sem limites.

Nessa fase de transição do planeta Terra, marcada por uma pandemia assustadora, como seria possível tomar consciência da nossa realidade eespiritual?

CLAYTON – O fim da vida material seria a resposta certa. A consciência da falibilidade da vida humana é determinante, ao sabermos que a Covid-19 é um vírus de extremo contágio e que conduz as pessoas à consumação do seu estágio vital. SERÁ impositivo nos conscientizar de que somos seres frágeis e pre-destinados a morrer e, portanto, que nossa existência é efêmera e transitória.

POR outro lado, não somos educados para a morte, mas, sim, para a vida, como se ela fosse materialmente eterna – é preciso pensar nesta inexorável realidade.

E, QUANDO desencarnamos, o que será do EU? Como será “a prestação de contas” das minhas atividades na Terra? São situações impactantes que levam a pessoa a pensar e a tomar consciência da sua realidade existencial.

O poder negativo influente dos fatos e das circunstâncias que nos confundem as escolhas e decisões, denota que estamos desprovidos de inteligência emocional e de bom senso para entender a Verdade?

CLAYTON – Sem dúvida que os fatores negativos da sociedade consumerista e direcionada para o TER em lugar do SER, causam inevitáveis desvios de conduta no ser humano. Mario Vargas Llosa retratou adequadamente esta situação em seu livro “Civilização do Espetáculo”. A banalização e as frivolidades da vida revelam o nosso afastamento, até mesmo involuntário, do real significado do sentido da existência. DIANTE desse quadro, a pessoa perde o seu senso de direção, além de gerar perturbações psicológicas que produzem efeitos não desejados espiritualmente. Afinal, para tomar decisões é preciso que a pessoa esteja sintonizada e harmonizada com as diversas alternativas que se oferecem nesse momento, a fim de que a escolha seja mais correta e satisfativa.

AS PIORES decisões são aquelas que foram tomadas no furor das emoções. E, certamente, que as melhores decorrem do nosso equilíbrio emocional e
do bom senso. Como descobrimos os caminhos que possam nos conduzir ao encontro do nosso EU espiritual?

CLAYTON – Nós, espíritas, sabemos o caminho! Certamente que serão aqueles que nos intuem como sendo o melhor. Nossa percepção ou nossa capaci-
dade de nos sintonizar com nossos guias espirituais e as entidades dos planos superiores que nos assistem, serão determinantes nesse momento em nosso processo decisório. De qualquer forma, será necessário nos afastar do ambiente onde permeia distúrbios, barulhos e ou perturbações para anali-
sar o que a circunstância nos oferece para decidir.

O AUTOdescobrimento é um processo que demanda conhecimento e emoção, mediante o uso de nossa visão espiritual, para visualizar a melhor solução dos problemas que nos afligem. Assim, no meu modesto modo de entender, implica investigação e reflexão. No dizer de Teilhard de Chardin, acho que devemos mudar a célebre e vulgar assertiva que diz: “salve-se quem puder” para “salve-se quem souber!”

Entre encontros e desencontros, o senhor acha mesmo que quem souber mais no mundo cheio de tantos conflitos morais e desafios provacionais,
fará escolhas mais inteligentes e sensatas?

CLAYTON – Sem dúvida que sim! Afinal de contas, quem realiza escolhas mais acertadas no universo multifacetário de dificuldade onde vivemos, serão aqueles que utilizando sua inteligência emocional escolher alternativas mais sensatas, adequadas e que estejam ao seu alcance para concretizá-las.

A DUALIDADE da vida se encontra no centro da experiência humana. Viver se converte em um processo de aquisição do conhecimento em face dos
fatos que enfrentamos no transato da existência. No dizer de Joanna de Angelis, o autodescobrimento é o clímax de experiências do conhecimento e
da emoção, através de uma equilibrada vivência.

ASSIM, é preciso conhecer para ponderar com mais critério e maior responsabilidade, diante dos desencontros que vivenciamos na atualidade. O momento presente exige de todos nós alteridade e prudência. Não podemos dissociar essa dualidade no processo de escolha.

E, PARA atingir esse clímax, se torna necessário investigar, analisar e ponderar o que for mais importante para nós, sem descurar a harmonia que deve-
mos ter na relação com o outro. Afinal, ninguém decide sozinho! Sempre haverá relação com o próximo.

DEVEMOS atender nossos impulsos naturais de benevolência e compaixão e nos envolver com os valores fundamentais da pessoa, que constituem forças
positivas que nos impulsionam na direção dos planos superiores.

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Clayton Reis

Vice-presidente da ABRAME, Juiz aposentado, Escritor, Professor Universitário e Advogado.