Suavidade de Jesus

Em O Livro dos Espíritos1, ao responder à questão 625, os benfeitores espirituais apresentam Jesus como o tipo mais perfeito que Deus ofereceu aos homens para lhes servir de Guia e Modelo.

Para a Humanidade, desde o nascimento de Jesus até os dias de hoje, há uma permanente busca por compreender esse Homem tão diferente.

No sermão da montanha, Jesus nos ensina que são bem-aventurados os mansos porque herdarão a Terra2.

Em outra passagem, quando convida a virem a ele os aflitos e sobrecarregados, esclarece ser manso e humilde de coração3.

Allan Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo4, ensina que Jesus faz da brandura, da moderação, da mansuetude, da afabilidade e da paciência, uma lei. Nesse capítulo IX, o Codificador seleciona belas mensagens sobre o tema, como A afabilidade e a doçura e A paciência.

Assim, aprendemos que a suavidade no trato, a mansidão e a afabilidade são características de Jesus.

O benfeitor Emmanuel, pelas abençoadas mãos de Francisco Cândido Xavier5, nos lembra a forma cuidadosa adotada por Jesus para ensinar e partilhar a Verdade que possuía no coração. E cita vários episódios:

A Madalena, irmã possuída por sete gênios sombrios, Ele não fez acusações. Ao contrário, Ele a acolheu com imensa ternura e descerrou-lhe ao espírito de mulher os horizontes da abnegação pura e sublime.

Diante de Zaqueu, proprietário egoísta, eximiu-se de críticas, revelando-lhe a beleza do trabalho e da generosidade.

Mesmo incompreendido por Judas, o discípulo invigilante, Ele não o expulsou da família espiritual, mas orou por ele e o auxiliou em silêncio através da tolerância fraterna.

Negado por Pedro, o companheiro receoso, esperou o momento oportuno, além da própria morte, para fortalecê-lo para o ministério futuro.

À frente de Pilatos, o juiz frágil que requisita explicações em torno da Verdade de que se fazia embaixador, apenas sorri sem resposta, entregando-o às mãos infatigáveis do tempo.

Perante as dúvidas de Tomé, o companheiro cético, sem reprovações, submete-se bondoso e sereno às suas exigências infantis.

Perseguido por Saulo de Tarso, o Doutor intransigente, não revida: socorre-o na estrada de Damasco, ungindo-o de renovação e de luz.

Podemos acrescentar outros episódios sublimes, além dos descritos pelo nobre benfeitor Emmanuel, como a suavidade com que trata a mulher adúltera, após os julgadores se afastarem, sem condená-la, mas propondo um futuro de renovação.

A beleza do convite ao inseguro e envergonhado Levi, levando-o para o colégio apostólico onde escreverá seu belíssimo Evangelho.

Na cruz, a atenção e resposta a Dimas, o condenado arrependido, que pede para ser lembrado e é acolhido por Jesus com a promessa de ingresso no paraíso.

E, por fim, o zelo com Sua mãe ao entregá-la aos cuidados do discípulo amado.

Nós, que recebemos as verdades cristãs, esclarecidas pelas lentes do Consolador, devemos meditar sobre a suavidade de Jesus no trato com todos.

A ternura, o envolvimento, o acolhimento. Desde o cuidado com Sua mãe, a atenção a Dimas, a oração por Judas, o silêncio para Pilatos, a força para Pedro, a submissão a Tomé, o socorro a Saulo, o suave convite a Levi, a proposta de futuro para a mulher adúltera, a revelação da beleza para Zaqueu e a imensa ternura com que acolhe Madalena.

Para cada um, uma forma diferente de atender e esclarecer. Nunca rude, nunca severo, nunca julgador, nunca seco, nunca irônico. Sempre doce, afável, moderado e manso de coração.

Compreendendo melhor o Cristo, surge para nós a necessidade de implementar tais exemplos em nossas vidas. Para isso, nos socorremos das lições do benfeitor Emmanuel, na mensagem Amor e Verdade6:

A Verdade é Luz. Entretanto, o Amor é a própria Vida. Nele temos a imagem da água pura que transforma o deserto em jardim. Façamos, então, da própria alma uma fonte amiga de compreensão e fraternidade, recebendo nossos companheiros de jornada tais quais são e, filtrando para cada um deles a bênção da Verdade no vaso do Amor puro, estaremos trilhando o caminho do Cristo, o eterno Benfeitor, que na exaltação da Verdade, aceitou o supremo sacrifício de si mesmo, na cruz da renunciação e da morte, por acendrado Amor à Humanidade inteira.

Referências

  1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 2013. pt. 3, cap. I, q. 625. ↩︎
  2. BÍBLIA, N. T. Mateus. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1966. cap. 5, vers. 5. ↩︎
  3. Op. cit. cap. 11, vers. 28 e 29. ↩︎
  4. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB, 2013. cap. IX, item 4. ↩︎
  5. XAVIER, Francisco Cândido. Verdade e amor. Por Espíritos diversos. Brasília: FEB, 2014. cap. 3. ↩︎
  6. Op. cit. cap. 7. ↩︎

Nota

Este artigo foi originalmente publicado no site Mundo Espírita. Para acessar o conteúdo original, clique aqui.

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Marcelo Anátocles Ferreira

Desembargador e Associado da ABRAME.