O censo de 2010 no Brasil trouxe à tona alguns dados surpreendentes sobre as crenças religiosas da população, especialmente entre os católicos. Um dos dados mais notáveis foi que aproximadamente 50% dos católicos brasileiros afirmaram acreditar na reencarnação, uma crença que não faz parte da doutrina oficial da Igreja Católica.
Essa estatística revela a complexidade e a diversidade das crenças religiosas no Brasil, onde práticas e crenças de diferentes tradições espirituais se misturam. Acredita-se que essa alta porcentagem seja influenciada pela convivência com outros segmentos cristãos, como o espiritismo, que é popular no Brasil e defende a reencarnação como um de seus princípios centrais.
Essa informação também levanta questões sobre o sincretismo religioso no Brasil e como os católicos integram diferentes tradições e crenças em sua espiritualidade pessoal.
A reencarnação parece ressoar com as perspectivas de muitos católicos, mostrando como a religião pode se adaptar e evoluir ao longo do tempo e em diferentes contextos culturais dentro do processo da evolução do ser humano em busca de uma fé que possa “encarar a razão face a face em todas as épocas da humanidade” (ESE).
Esse dado do censo de 2010 reflete uma mudança significativa na forma como a fé é praticada e entendida, sugerindo que, para muitos, o cristianismo deve dar passos contra o dogmatismo medieval e coexistir com o avanço da própria ciência, que no meio universitário (USP) tem avançado nas pesquisas sobre medicina e espiritualidade, vida e reencarnação, em paralelo a uma prática religiosa que é, ao mesmo tempo, pessoal e diversa, sobretudo egressa do pensamento que evoluiu da palingenesia socrática, que está em pelo menos 23 religiões mais antigas da humanidade.
Portanto, o conceito de reencarnação não deveria ser intrigante nem controverso no meio cristão, pois no judaísmo, matriz racional e tronco original do monoteísmo cristão, temos sob o nome de ressurreição a própria reencarnação, como no célebre diálogo de Jesus com Nicodemos sobre a necessidade de o homem nascer de novo, “o que é da carne é carne, o que é do espírito é do espírito”, dentre as diversas passagens bíblicas do Novo e do Velho Testamento.
Ao explorar a ideia de que a reencarnação poderia ser o “elo perdido” no cristianismo, propriamente se cuidou da crença que foi suprimida ou reinterpretada ao longo dos séculos por conveniências.
A Reencarnação nas origens do Cristianismo é apontada por estudiosos que falam das primeiras comunidades cristãs que aceitavam e consideravam a teoria dos renascimentos.
Na Ágora em Atenas, Sócrates a apregoava com todas as letras.
Fato é que, interpretações de textos antigos e tradições orais foram sendo excluídos da doutrina oficial. Um exemplo frequentemente citado é o pensamento de Orígenes, um dos primeiros teólogos cristãos, que especulou sobre a pré-existência da alma. Suas ideias foram posteriormente condenadas como heréticas no Concílio de Constantinopla em 553 d.C.
Ao longo da história, diversas correntes esotéricas cristãs, como os cátaros e os gnósticos, mantiveram crenças relacionadas à reencarnação. Esses grupos acreditavam que a alma passava por várias encarnações até alcançar a purificação e a união com o divino. Embora essas correntes tenham sido suprimidas pela Igreja oficial, suas ideias persistiram em tradições esotéricas e místicas, sugerindo que a reencarnação poderia ter sido uma parte oculta da espiritualidade cristã.
Para os cristãos espíritas, o “elo perdido” no cristianismo aponta para passagens bíblicas que podem ser interpretadas como referências à reencarnação.
Outro exemplo comum é a pergunta dos discípulos a Jesus em João 9:2 sobre se um homem cego de nascença teria pecado, “ele ou seus pais”, sugerindo a possibilidade de uma vida anterior.
Hoje, a reencarnação é uma crença comum em muitas tradições espirituais ao redor do mundo, inclusive entre cristãos que buscam uma espiritualidade mais inclusiva e universalista. Essa perspectiva permite uma nova interpretação das Escrituras e da tradição cristã, oferecendo respostas a questões existenciais sobre justiça divina, propósito da vida e evolução da alma.
Embora a reencarnação não faça parte da doutrina das igrejas cristãs tradicionais, sua presença em tradições esotéricas, bem como as claras referências nas Escrituras, sugerem que ela poderia ter sido uma parte mais significativa do cristianismo primitivo do que se acredita atualmente.
Se é realmente o “elo perdido” ou apenas uma interpretação alternativa, continua sendo uma questão aberta ao debate teológico e espiritual.