O Espírito de Verdade Seria o Próprio Jesus?

Cosme Massi, um conhecido estudioso do espiritismo e autor de diversas obras sobre Allan Kardec, defende a ideia de que o “Espírito de Verdade” mencionado no Espiritismo, especialmente nas obras de Kardec, seria o próprio Jesus.

No contexto espírita, o “Espírito de Verdade” é frequentemente associado ao guia espiritual que teria orientado Kardec na codificação do Espiritismo. Para Massi, há uma forte conexão entre esse Espírito de Verdade e Jesus, apoiada por passagens em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, onde o Espírito de Verdade se refere a si mesmo como “amigo e irmão maior”, o que, segundo Massi, remete à figura de Jesus.

Essa interpretação, no entanto, não é unânime entre todos os espíritas, já que alguns preferem uma abordagem menos literal, entendendo o “Espírito de Verdade” como uma coletividade de espíritos superiores ou um princípio universal, em vez de uma única entidade.

Jorge Elarrat, outro estudioso do Espiritismo, tem uma visão que difere um pouco da de Cosme Massi. Segundo Elarrat, o “Espírito de Verdade” não é necessariamente o próprio Jesus, mas pode ser entendido como um mensageiro do Cristo ou um coletivo de espíritos superiores que agem em nome de Jesus.

Elarrat sugere que o “Espírito de Verdade” seria uma entidade ou um grupo de entidades espirituais altamente evoluídas que trabalham sob a orientação direta de Jesus, cumprindo a missão de trazer a verdade e o consolo aos encarnados. Essa interpretação se alinha com a ideia de que Jesus, como espírito de altíssima elevação, teria designado mensageiros para ajudar na codificação do Espiritismo e na orientação dos espíritas.

Essa perspectiva, portanto, não exclui a possibilidade de Jesus estar diretamente envolvido, mas coloca ênfase na ideia de que o “Espírito de Verdade” pode representar uma coletividade ou um representante específico, agindo sob a autoridade e inspiração de Cristo.

Divaldo Franco, um dos maiores expoentes do Espiritismo contemporâneo, tem uma interpretação que se aproxima da visão de que o “Espírito de Verdade” é uma entidade ou um grupo de entidades espirituais altamente elevadas, incluindo Jesus, mas ele não afirma categoricamente que o Espírito de Verdade seja exclusivamente Jesus.

Divaldo sugere que o “Espírito de Verdade” é uma designação simbólica que pode representar tanto o próprio Cristo quanto uma coletividade de espíritos superiores que agem sob a coordenação de Jesus. Ele reconhece a importância de Jesus como o guia e modelo para a humanidade, mas também destaca que, no contexto espírita, o “Espírito de Verdade” pode incluir outros espíritos elevados que têm a missão de iluminar e orientar a humanidade.

Assim, para Divaldo Franco, o “Espírito de Verdade” não é necessariamente restrito a Jesus, mas é um conceito que abrange uma dimensão espiritual mais ampla, que inclui Jesus como líder máximo, mas que também pode envolver outros espíritos de grande elevação moral e espiritual.

Chico Xavier, Emmanuel e André Luiz, três figuras centrais na Doutrina Espírita, têm interpretações que, em geral, apoiam a ideia de que o “Espírito de Verdade” está intimamente ligado a Jesus, mas com nuances que merecem destaque.

Chico foi sempre discreto em relação a questões doutrinárias específicas e amplamente aceito por nós, os cristãos espíritas. Ele acreditava que o “Espírito de Verdade” poderia ser o próprio Jesus ou, pelo menos, atuar sob a inspiração direta de Jesus.

Em suas obras, há uma ênfase na presença e orientação de Jesus sobre a Terra, sugerindo uma conexão entre o “Espírito de Verdade” e o Cristo.

Emmanuel, o guia espiritual de Chico, frequentemente se referia a Jesus como o guia da humanidade e, embora Emmanuel não tenha explicitamente afirmado que o Espírito de Verdade seja Jesus, ele sugeria que Jesus estava diretamente envolvido na codificação do Espiritismo e na missão espiritual que Kardec cumpriu, o que implica que Jesus poderia ser, ou estar intimamente ligado ao Espírito de Verdade.

Nas obras de André Luiz, a figura de Jesus é sempre tratada com extrema reverência e centralidade, embora ele também não declare explicitamente que o Espírito de Verdade seja Jesus, mas a forma como Jesus é retratado como governador do planeta Terra sugere que qualquer espírito ou coletivo de espíritos que atuem como “Espírito de Verdade” o fariam sob a orientação de Cristo.

Portanto, enquanto Chico Xavier, Emmanuel e André Luiz não afirmam de maneira categórica que o “Espírito de Verdade” seja exclusivamente Jesus, eles sustentam a ideia de uma profunda conexão entre o “Espírito de Verdade” e Jesus, sendo este último a figura central na orientação espiritual da humanidade.

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Abilio Wolney Aires Neto

Magistrado e Delegado Adjunto da ABRAME/GO