Manter-se no Alto

Em reunião de estudos na Casa Espírita, uma companheira narrou interessante episódio que vivera.

Disse que, quando estava estacionando seu carro perto de uma praça, foi advertida por um agente de trânsito de que ali era proibido parar. Imediatamente, religou o carro para sair quando o mesmo agente apontou para outros veículos que ali estavam dizendo que ela poderia ficar se acertassem. Ela não concordou com a proposta e seguiu para um estacionamento próximo. E, concluiu: Aquilo que já sei que não é certo, não faço.

Que importante lição! Há situações, na vida cotidiana, nas quais  conseguimos discernir o que é certo e o que é errado. Situações no trânsito, no comércio, na nossa relação com o fisco, nas nossas relações familiares em que, com certa facilidade, sabemos o que é correto, qual o caminho a seguir, ou ainda, o que não devemos fazer.

Quantas vezes vemos os outros estacionando irregularmente em vagas reservadas ou usando indevidamente o acostamento, quando há engarrafamento, e isso nos incomoda?

Quantas vezes recebemos troco errado para maior ou contas no restaurante em que algo que consumimos não constou do total cobrado?

Quantas vezes nos são oferecidos negócios sem notas fiscais, com preço menor, ou falsos recibos para declaração do Imposto de Renda?

Quantas oportunidades aparecem para os comprometidos, afetivamente, para distrações descompromissadas com outros que não o companheiro?

Quantas vezes, nos nossos lares, deixamos de cumprir deveres que pesarão para outros que os terão que realizar?

Essas reflexões valem também em relação aos cuidados que devemos ter com o nosso corpo, com as coisas que sabemos que nos fazem bem ou mal, assim como os cuidados com o nosso meio ambiente, nas opções que podemos adotar e que ajudam na preservação do nosso planeta.

Naquilo que conseguimos discernir, não vamos negociar! Mantenhamo-nos em um grau de acuidade e evolução moral a partir do qual passaremos a outro mais adiantado.

Isso se dá na esfera íntima de cada um de nós, no campo dos nossos testemunhos individuais e, na maioria das vezes, sem testemunhas visíveis. Quando há testemunhas, é tão bom quando o nosso acerto se mostra útil para aqueles que estão à nossa volta.

Esse trabalho é parte da nossa reforma íntima, um exercício diário que devemos praticar e que Allan Kardec nos apresenta inicialmente em O Livro dos Espíritos1, na parte terceira, no capítulo XII, no qual esclarece como viver todas as Leis Morais.

Nas questões 919 e 919a, nos é apresentado o autoconhecimento com um roteiro para tão importante conquista. Posteriormente, em O Evangelho segundo o Espiritismo2, ele conclui: Reconhece-se o verdadeiro espírita por sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.

Jesus nos ensina3Quem estiver sobre o telhado de sua casa, não desça para retirar dela coisa alguma, ou seja, devemos nos manter no degrau evolutivo já atingido.

A dignidade é conquista que nos dará muito brilho interior e muita paz. Vale o esforço, e, naquilo que já sabemos, que já compreendemos, que já conseguimos discernir, não negociemos. Vamos nos manter no Alto para solidificar a experiência como conquista da alma, como virtude alcançada, como felicidade possível marcada como o efetivo cumprimento do dever alcançado pela nossa razão.

Referências

  1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 1987. pt. 3, cap. XII, q. 919 e 919a. ↩︎
  2. ________, O Evangelho segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB, 2001. cap. XVII, item 4. ↩︎
  3. BÍBLIA, N. T. Mateus. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1966. cap. 24, vers. 17. ↩︎
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Marcelo Anátocles Ferreira

Desembargador e Associado da ABRAME.