Ora, havia naquela mesma comarca pastores que estavam
no campo, e guardavam, durante as vigílias da noite, o seu rebanho.E eis que o anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do Senhor os
cercou de resplendor, e tiveram grande temor.E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de
grande alegria, que será para todo o povo:Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador,
que é Cristo, o Senhor.E isto vos será por sinal: Achareis o menino envolto em panos, e
deitado numa manjedoura.E, no mesmo instante, apareceu com o anjo uma multidão dos exércitos
celestiais, louvando a Deus, e dizendo:Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens.
E aconteceu que, ausentando-se deles os anjos para o céu, disseram os pastores
uns aos outros: Vamos, pois, até Belém, e vejamos isso que aconteceu,
e que o Senhor nos fez saber.E foram apressadamente, e acharam Maria, e José, e o menino
deitado na manjedoura.E, vendo-o, divulgaram a palavra que acerca do menino lhes fora dita;
E todos os que a ouviram se maravilharam do que os pastores lhes diziam.
Mas Maria guardava todas estas coisas, conferindo-as em seu coração.
E voltaram os pastores, glorificando e louvando a Deus por tudo o que
tinham ouvido e visto, como lhes havia sido dito.1
Sempre que se aproxima o Natal, costumamos recordar as notícias sobre o nascimento de Jesus. Através de filmes, livros, contos, poemas ou do próprio Evangelho, voltam à nossa mente os episódios e os personagens que participaram daquele momento inesquecível da História da Humanidade.
Alguns personagens, apesar de coadjuvantes, deixaram muitas lições que vão nos ajudar a entender o nascimento de Jesus e a necessária busca para que esse nascimento se realize dentro de nós. Por exemplo, os pastores citados no Evangelho de Lucas, homens simples, cujo ofício era cuidar de rebanhos de ovelhas.
Naquela noite especial, quando estavam cuidando dos animais, como de costume, lhes aparece um anjo. Eles se assustam e ficam com medo. O anjo os acalma, dizendo-lhes que trazia uma notícia de grande alegria para todo o povo: o nascimento do Salvador, o Cristo, que é o Senhor. O anjo acrescenta uma informação necessária para que identifiquem o menino: ele estaria envolto em panos em uma manjedoura.
Em seguida, surge um coral de anjos louvando a Deus com Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens.
Quando os anjos vão embora, superada a emoção que, imaginamos, deve ter sido imensa, o grupo decide partir em direção a Belém para confirmar a informação recebida. Encontram Maria, José e o menino deitado na manjedoura. Narram o que ouviram dos anjos, o que sentiram e depois voltam glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido.
A primeira lição que podemos retirar desse episódio é o cumprimento do dever. Eles estavam de noite, vigilantes, cuidando dos rebanhos. Após o susto, a atenção e a confiança do que viram e ouviram fizeram com que seguissem imediatamente em direção a Belém.
Atentos ao sinal de reconhecimento, que representava uma grande lição de humildade, constataram que o recém-nascido estava envolto em panos deitado nas palhas de uma manjedoura.
Ali conheceram Jesus, Maria e José. Contaram com entusiasmo o que haviam visto e, constatada a realidade de tudo, seguiram levando adiante a mensagem da alegria, a Boa Nova de renovação da Terra e dos novos tempos chegados.
Meditemos sobre a vigilância nos nossos dias e a necessidade do cumprimento do dever. Aprendemos em O Evangelho segundo o Espiritismo2 que o dever é o mais belo laurel da razão. Temos condições de fazer corretamente tudo o que entendermos que deve ser feito. O dever é uma bravura da alma: exige coragem e determinação. Podemos, pelo intelecto e pela emoção, entender e agir de acordo com o correto. Como os pastores, cabe-nos cumprir nosso dever de olhos abertos, atentos às mensagens da vida e às visitas dos anjos, que podem ser das mais diversas formas. Todos temos um Anjo da Guarda, como nos ensina O Livro dos Espíritos3, e ele, com certeza, diariamente, nos passa muitas mensagens.
Os pastores, refeitos do susto inicial e da emoção que se seguiu, partiram em direção a Belém. Confirmada a informação, realizado o encontro, revelaram o que tinham ouvido a José e Maria.
Mais uma importante lição: confiar nos registros, nas informações que chegam dos Céus, dos Anjos, mas confirmar com dados da realidade, quando possível. Devemos sair do campo da meditação e das orações para o campo da realidade e da constatação, unindo fé e razão, como nos conclamou Allan Kardec.
A partir da confirmação, convencidos da veracidade da revelação, partem os pastores para divulgar a notícia a todos com muita coragem e fé, deixando-nos mais uma grande lição.
Aprendamos com eles, uma vez que temos a Terceira Revelação em nossas mãos, que estamos lidando com o Consolador Prometido. Nós, que testemunhamos tão lindos fatos mediúnicos, ouvimos palestras, recebemos mensagens e livros mediúnicos de tanta beleza.
Mantenhamos a atenção e a vigilância, saibamos silenciar para ouvir, constatar e divulgar a Boa Nova, renovada através das belíssimas páginas do Consolador.
Quem sabe, com esse esforço permanente, possamos um dia ouvir, ainda que de longe, as vozes daqueles Anjos que anunciaram a chegada do Senhor, conhecer o Menino que tanto amamos e que, de braços abertos, nos aguarda para nos envolver em um amplexo carinhoso, transformando nossas vidas num permanente e definitivo Natal.
Referências
- BÍBLIA, N. T. Lucas. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1966. cap. 2, vers. 8 a 21. ↩︎
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB, 2001. cap, XVII, item 7. ↩︎
- ______________. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 1997. pt. 2, cap. IX, q. 489 a 521. ↩︎