Sempre que se aproxima o Natal, costumamos recordar o nascimento de Jesus. Por meio de filmes, livros, contos, poemas ou do próprio Evangelho, voltam à nossa mente os episódios e os personagens que participaram daquele momento inesquecível da História da Humanidade.
Lembro aqui alguns personagens coadjuvantes que deixaram lições que nos podem auxiliar a empreender a necessária busca para que esse nascimento se realize em nós: os magos.
Citados no Evangelho de Mateus, eles são estrangeiros que viajaram de países distantes para visitar Jesus Menino. De diferentes culturas, eram estudiosos dos astros e, por meio de seus conhecimentos, registraram a vinda à Terra de um Espírito muito especial, um Rei diferente que iria transformar a Humanidade.
Não eram judeus, por isso não viam Jesus como o Messias, mas como um Rei especial. Foi esse registro, fruto de anos de pesquisas e reflexões, que os fez mirar os céus e sair em longa viagem para um destino desconhecido, em busca de Jesus. Vindos de diferentes países, eles se uniram nessa aventura divina.
Pela distância e pelas condições das estradas naqueles dias, pode-se concluir que lhes foi longa e cansativa a jornada. Foram meses, talvez anos, longe de seus países, sem saberem a data do retorno e enfrentando todos os riscos do percurso.
Eles seguiram uma estrela e chegaram até bem perto de onde estavam José e Maria. Como buscavam por um Rei e estavam nas terras dos hebreus, seguiram ao palácio de Herodes, Rei da Judeia, na tentativa de obter detalhes sobre seu destino.
Foram recebidos com honrarias e conseguiram a confirmação do nascimento de Jesus, que se daria em Belém. Herodes lhes pediu que retornassem com notícias sobre o exato local de onde estava o novo Rei para que também ele pudesse lhe render homenagens.
Assim que saíram do palácio, os magos voltaram a ver a estrela e chegaram à casa, onde encontraram o Menino e Sua mãe.
Reconheceram imediatamente o Rei que tanto buscavam, dando-lhe de presente o melhor que carregavam: ouro, incenso e mirra.
Orientados por sonhos, não retornaram pelo caminho que tinham percorrido para que não cruzassem com Herodes e seus soldados. Não se importaram em levar ainda mais tempo na viagem de volta, uma vez que visavam preservar a vida do Menino.
Reflitamos a respeito desses sábios e seu encontro com Jesus.
A primeira lição que nos legaram é o estudo. Os três devotaram-se, por anos, aos escritos e anúncios que se referiam à vinda do Rei. Nós, espíritas, temos o estudo como uma grande bússola. Compete-nos estudar a obra de Allan Kardec, os autores clássicos espíritas e as obras mediúnicas. Há tanto para ler, tanto material para estudo e reflexão!
Nossa fé, de acordo com a proposta do Codificador, deve ser raciocinada. O estudo deve estar associado à meditação. Devemos nos sensibilizar com o conteúdo, sentir o que está por trás das letras, associar a razão à emoção, à capacidade de ler as estrelas. Olhar para o céu em busca da estrela-guia, da emoção de perceber o infinito da Criação divina e a harmonia do Universo e, assim, permitir-nos ser conduzidos ao encontro do Mestre.
Outra lição é a capacidade de unir forças com conhecidos ou desconhecidos. Devemos ter capacidade de trabalhar em grupo, na sociedade, na família, no Centro Espírita, onde for. Unidos, venceremos barreiras e criaremos pontes para a grande ventura que nos espera e que, necessariamente, passará pelo amor ao próximo.
Hoje, não precisamos percorrer milhas no deserto ou estradas inóspitas, mas devemos amar aqueles que mais precisam, diminuir as desigualdades e injustiças à nossa volta, colaborar para a melhoria das condições de vida dos demais. É esse o nosso roteiro e, para isso, há necessidade de companheiros de viagem.
Persistência é mais uma lição. Eles se dedicaram durante um período muito longo e sob condições extremamente ásperas para conseguirem alcançar seu destino. É importante persistirmos em nossos ideais, em nossas tarefas do bem. Insistirmos em nossas leituras, nossas orações, nosso Evangelho no lar. Os benfeitores espirituais nos ensinam que a Espiritualidade Superior passa a confiar em nós na medida que permanecemos fiéis aos bons propósitos, no decorrer dos anos. Com um ano, novos créditos; com cinco anos, outros tantos; com dez anos, créditos maiores. Será, portanto, persistindo e enfrentando as dificuldades que a soma dos dias vai se nos apresentar, mantendo-nos fiéis ao ideal superior, permitindo-nos chegar ao destino esperado.
A estada no palácio de Herodes também nos oferece importante lição. Ali, os viajantes encontraram repouso, conforto e até bajulação. Conseguiram muito pouco ali. Um detalhe curioso é que, somente ao deixarem o palácio, voltaram a avistar a estrela-guia.
Lembremos a questão de O Livro dos Espíritos1, na qual os benfeitores nos indicam que, no campo material, felicidade é a posse do necessário. No palácio, há fartura, mas os magos perdem os sinais do Menino procurado.
Ao deixarem o local, voltam a ser beneficiados com a visão da estrela, que lhes dá a correta direção.
Por vezes, os bens materiais em excesso nos desviam das reais necessidades, dos objetivos maiores que nos devem nortear a vida material, uma vez que somos Espíritos temporariamente mergulhados em um corpo, para nosso crescimento. A imersão na carne nos impõe esse grande desafio. Não devemos nos distrair excessivamente com os atrativos da matéria.
Uma amiga fez interessante comparação afirmando que a vida no corpo é semelhante a uma visita a um shopping center, onde tudo é perfumado e iluminado, o clima é agradável, parecendo sempre dia claro e ameno. As vitrines nos distraem, mas ali não está toda a realidade da vida. Precisamos nos conscientizar de que podemos ser felizes com o necessário. Saiamos dos palácios das ilusões e sigamos viagem. Do lado de fora, torna-se mais fácil sentir vibrar no coração os ideais superiores e voltar a avistar a estrela que nos guiará para o destino certo.
No encontro com Jesus, recebemos a lição do reconhecimento de Sua grandeza. Os magos maravilharam-se, fascinaram-se e não ficaram fazendo indagações descabidas. Lembremo-nos da lição de Allan Kardec, quando afirma que o espírita verdadeiro e sincero2 é aquele que vibra com os princípios da Doutrina. Aprendamos a reconhecer esse tesouro que nos está acessível.
Ao reconhecerem no Menino o Rei que procuravam, entregaram-lhe suas preciosidades: o ouro, o incenso e a mirra. Desprendimento e generosidade. Haviam, com certeza, enfrentado grandes despesas nos meses de viagem. Contudo, haviam preservado os presentes com que desejavam agraciar o grande Enviado.
Aprendamos a ter desprendimento dos bens materiais, trabalhando nosso egoísmo, aplicando mais generosidade na obra do bem, no serviço ao próximo. Sirvamo-nos dos recursos materiais ou da preciosidade do nosso tempo, na construção desse mundo melhor, dessa Nova Era em que os ensinamentos do Cristo são a regra.
Convencidos do encontro divino com Aquele que mudaria definitivamente a História da Humanidade, partiram os sábios, certamente levando adiante a boa notícia. Sintonizados com o bem, mudaram a rota, adotando um caminho mais longo, preservando a integridade física do Menino.
Nosso encontro com Jesus nos provocará importantes reflexões e devemos ter a mesma coragem dos visitantes ilustres de realizar mudanças de rota. Por vezes, mudanças difíceis, duras, trabalhosas, mas imprescindíveis para que preservemos Jesus e Suas lições dentro de nós.
Aprendamos com os magos e sigamos viagem rumo ao encontro divino. O Senhor das estrelas nos aguarda de braços abertos.
Referências:
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 1987. pt. 4, cap. I, q. 922. ↩︎
- __. O Evangelho segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB, 2001. cap. XVII, item 4. ↩︎
Fonte: Jornal Mundo Espírita, edição de dezembro 2023