Baseado na obra psicológica de Joanna de Ângelis
A dor é o caminho abençoado da nossa libertação. Seja ela física ou a mental, desempenha relevante papel no processo evolutivo dos seres, porque propõe a educação do nosso espírito.
Ela é, sem dúvida, uma educadora sublime, muito embora, incompreendida. Sublime porque redime; incompreendida, porque a rebeldia e o encarceramento mental em processos psicológicos autopunitivos têm atrasado ou atrapalhado a elaboração do significado útil da dor.
A crença milenar de que o sofrimento é necessário por ser decorrente de um mecanismo da Justiça Divina para punir os nossos equívocos, culminou introjetado no inconsciente humano, atraindo muitas vezes posturas de uma espécie de masoquismo mesclado com o sentimento inconsciente de culpa, que levam os indivíduos a não se sentirem merecedores do recebimento de bênçãos.
A dor-punição é, assim, projetada na vida comum do indivíduo, causando uma série de distúrbios psicológicos e crenças equivocadas, dentre elas, a de que não merece ser feliz. O que é lamentável, porque a nossa destinação é a felicidade!
E, julgando não merecer ser feliz, esse indivíduo passa a adotar padrões de comportamento desalinhados do seu processo evolutivo, como por exemplo, ao optar pela escolha da convivência com as emoções da mágoa e do ressentimento. Ou com a postura da melancolia ou da tristeza crônica, do desalento sistemático que, por sua vez, podem atrair como consequências outras patologias, como o estado de depressão ou de alheamento e desencanto pela vida.
A gravidade do sentir a dor como punição traz um dado muito pior: a mantença num perfil psicológico de não lutar pela vida. De manter-se, por exemplo, em relacionamentos mais infelizes, ou nas situações mais desarmonizadoras, que não trazem crescimento evolutivo nenhum. Aliás, atrasam o nosso aperfeiçoamento moral.
A dor, na realidade, como todos sabemos, traz sempre um ensinamento. Mas será que queremos aprender? Será que estamos mesmos aptos a buscar esse significado?
Nós percebemos, por exemplo, que a rebeldia, o medo e a ignorância humanas também distorcem o reconhecimento desse movimento da vida.
Dentre os perfis psicológicos vários, há os grupos que adotam a postura de submissão-punição, já mencionado; há grupos que adotam a postura da rebeldia, sentindo-se injustiçados e escolhendo a raiva, o ressentimento pela vida e a revolta sistemática por Deus e pelas pessoas como saída; mas, há também, além de inúmeros outros, o grupo dos que acolhem posturas baseadas no medo e fogem da dor de todas as formas possíveis, atraindo, sem perceber, situações ainda mais difíceis, assim como todos os demais. Há ainda aqueles que se destacam pela completa e total indiferença pelo sofrimento do outro, não se importando com o que os outros sentem, porém, querendo receber todo tipo de auxílio possível quando necessitados, o que se torna um tanto quanto contraditório.
É por isso que a vida de vez em quando precisa fazer um certo movimento, chamando os indivíduos a si.
Necessitamos buscar outras formas de compreensão da dor, para que ela cumpra sua função evolutiva e traga, de fato, o efeito salutar ao qual se propõe a fazer dentro de nós.
O Espiritismo nos esclarece que ela vem nos auxiliar em nosso aperfeiçoamento moral. Ou seja, vem trazer luz nova a nossa vida, auxiliando-nos no florescimento dos potenciais divinos que residem em nossa alma.
Sofrer por sofrer, não ajuda! Querer sofrer de qualquer jeito também não!
Necessitamos, sim, minimizar os processos da dor, utilizando-nos da ciência para tanto, sempre que possível. Devemos mesmo honrar a nossa vida e defendê-la de todas as formas, desde que não venhamos a nos colocar em risco, ou a prejudicar a nós ou as outras pessoas.
Mas será que podemos também, em algum momento, honrar as nossas dores? De que forma conseguiríamos fazer isso?
Vítor Frankl nos ensinou, através de sua experiência pessoal, que todo ser humano tem a liberdade de escolher como passar pela dor ou pelo sofrimento.
A dor está presente até mesmo na Natureza, como por exemplo através da poda das árvores (por intervenção humana ou da própria natureza, quando um raio, por exemplo, culmina derrubando metade de uma arvorezinha, obrigando-a a refazer-se no desenvolvimento de novas hastes), a lagarta no casulo etc.
Talvez agradecê-la seja o primeiro passo.
Em seguida, os aprendizados da resignação, da resiliência, da aceitação dos desertos da nossa alma (tão necessários, porque, afinal, evoluir também dói), da aceitação das situações imodificáveis por si, da coragem, mas, também, da leveza com a vida, no ato de deixar-se ir, flutuando nas experiências com serena alegria de poder se submeter aos desígnios de Deus, com os melhores propósitos de crescer e aprender a sermos melhores do que somos, de poder ressignificar cada minuto da nossa existência, na modelação positiva dos nossos pensamentos, sem, contudo, sermos tão radicais a ponto de nos impedirmos de sentir dor. Sentir a dor também é importante, porém, ressignificá-la é mais.
Humildade e esperança talvez sejam as grandes bênçãos que a amiga dor queira nos mostrar, para que, enfim, possamos dizer, sofro feliz…porque, afinal, tudo passa e porque ainda necessitamos dessa dor amiga para evoluir!
Por fim, a última lição talvez seja o importar-se com os outros, deixando-nos um pouco para o consolo dos demais. O aprendizado da solidariedade, da compaixão. Em sendo assim, a fraternidade não será mais um sonho utópico e na medida em que todos puderem sair da condição de auxiliados para auxiliadores, seremos verdadeiramente felizes, pois a dor já não terá mais razão de existir.
Paz a todos!